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Você conhece o padroeiro dos políticos?

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Esse grande santo, comemorado no dia 22 de junho e declarado, por São João Paulo II, patrono dos governantes e políticos, tem uma história de vida que está intimamente ligada com toda a civilização do ocidente.

São Thomas More nasceu na cidade de Londres, Inglaterra, em 1478, em uma família cristã, que o educou na fé católica desde criança. Por sua inteligência notável, foi enviado a estudar na Universidade de Oxford, onde se formou em direito. Por ser muito inteligente e perspicaz, logo se tornou referência em sua área, com doutorado em direito com apenas 22 anos.

Tendeu à vida religiosa, mas entendeu que sua vocação era matrimonial. Casou-se, primeiramente, com Jane Colt, com a qual teve um filho e três filhas. Após a morte de Jane, Thomas casou-se com Alice Middleton. Além da sua vocação ao matrimônio, muito cedo despontou sua vocação à política e à literatura.

Entre suas obras destacam-se as seguintes: “O diálogo do conforto contra as tribulações”, renomado título da literatura britânica, “Utopia” e “Oração para o bom humor”.

Em 1529, São Thomas More tornou-se chanceler do Parlamento inglês, sendo que o Rei da época era Henrique VIII. Nesta época, acontece que Henrique quer se desfazer a todo custo do seu casamento com Catarina Aragão, para se casar com Ana Bolena. Essa situação gerou muita discussão na Igreja e no país, até que, por fim, Henrique VIII rompeu com a Igreja de Roma, casou-se com Ana, e usou do Parlamento para aprovar seu ato, que dava a ele e a seus sucessores poderes plenos sobre a Igreja local.

Feito isso, Henrique VIII mandou prender todos aqueles que não concordassem com a sua resolução e, consequentemente, com a separação da Igreja de Roma. São Thomas More e o então bispo João Fisher, não concordaram, e, por serem influentes dentro do contexto da época, foram ambos decapitados a mando do rei. Dom João foi morto no dia 22 de junho de 1535. São Thomas More foi executado duas semanas depois. Mesmo que tivessem a oportunidade de negar a fé ou de fugir para fora da Inglaterra, ambos preferiram permanecer e testemunhar a fé católica com o martírio da própria vida.

O Renascimento e a Inglaterra de São Thomas More

São Thomas More viveu em um contexto social e eclesial bastante desafiador, com muita instabilidade econômica, com relações entre Igreja e Estado um tanto quanto complexas, bem como vivendo respingos da revolução de Lutero e dos príncipes da Alemanha. 

Mesmo nessa circunstância difícil, São Thomas soube ser um bom e santo político. Com a sua obra “Utopia”, onde ele descreve um país de lugar nenhum, com poucas leis e com a administração benéfica voltada para os cidadãos, consagra-se, até hoje, como um dos autores mais influentes do período do renascimento na Inglaterra — ao lado de nomes como o de William Shakespeare.

Nesse livro, Thomas lança a sua percepção sobre a sociedade que buscava construir como político na Inglaterra, exaltando a paz, a compreensão e o amor. São Thomas More, em sua profissão, mesclava, com maestria, os ideais da civilização clássica com os do cristianismo.

Apesar disso, quando nomeado, em 1529, como Chanceler do Reino, Thomas se deparou com um momento de crise política e econômica imensas no país. Sendo o primeiro leigo a ocupar esse cargo, teve que enfrentar um período muito difícil, mas sempre buscou servir com dignidade ao rei e seu ao País. Sempre fiel aos seus princípios, buscou promover a justiça ante aqueles que almejavam somente seus interesses às custas do povo.

O homem que não vendeu a sua alma

Dentre as muitas coisas pelas quais um homem da estatura de São Thomas More pode ser conhecido, com certeza podemos destacar a sua honestidade e a defesa da fé católica quando esta foi ameaçada. Mesmo ante a morte, o santo não vacilou, pois sabia da doutrina que professava e entendia as  consequências das atitudes de Henrique VIII ao romper com a Igreja de Roma e ao colocar-se a si próprio como chefe da Igreja da Inglaterra, criando assim, a Igreja Anglicana.

Por causa de sua honestidade e retidão de caráter, Thomas More foi consagrado popularmente como “o homem que não vendeu a sua alma” — há um filme dedicado a ele com esse título que está entre os filmes recomendados pelo Vaticano.

A defesa da fé está em não abrir mão daquilo que o próprio Cristo nos deixou como testamento através da Tradição Apostólica e Escrituras, interpretadas pelo magistério legítimo. São Thomas More é testemunho de que devemos buscar a coerência moral, mesmo que signifique o risco de perder esta vida para poder dar a Deus o que é de Deus.

O martírio de São Thomas More

O martírio de São Thomas More certamente iniciou-se já quando teve que tomar a decisão de abrir mão de toda sua brilhante carreira e da garantia do sustento de sua família para não ferir sua consciência dando apoio aos planos de Henrique VIII. Ao retirar-se silenciosamente da vida pública, passou a viver resignado, sofrendo, com a família, a pobreza e o abandono de muitos de seus antigos amigos.

Como Thomas More permanecia firme em sua consciência e coerência moral, o rei mandou prendê-lo, no ano de 1534, na Torre de Londres, onde passou a ser torturado psicologicamente. Mesmo diante de todos os sofrimentos, o santo não se curva à vontade do rei, que exigia que se prestasse juramento que levaria a um sistema político e eclesiástico absurdo, a ponto de concretizar um despotismo incontrolável.

Diante do processo movido contra More, este defendeu a fé ardentemente através de suas convicções a respeito da indissolubilidade do matrimônio, do respeito ao patrimônio jurídico inspirado em valores cristãos e da liberdade da Igreja frente ao Estado. Sendo condenado pelo tribunal, foi decapitado em 6 de julho de 1535.

Por que ele é chamado de Padroeiro dos Políticos?

Na carta apostólica que declara São Thomas More como padroeiro dos políticos e dos governantes, São João Paulo II resume bem o porque deste grande santo ser luz para nossa era:

Precisamente por causa do testemunho que S. Tomás More deu, até ao derramamento do sangue, do primado da verdade sobre o poder, é que ele é venerado como exemplo imperecível de coerência moral. Mesmo fora da Igreja, sobretudo entre os que são chamados a guiar os destinos dos povos, a sua figura é vista como fonte de inspiração para uma política que visa como seu fim supremo o serviço da pessoa humana.” 1

Segundo o mesmo documento, não só líderes religiosos pediram que São Thomas More fosse declarado patrono dos políticos e governantes, mas uma grande quantidade de líderes culturais, diplomatas e Chefes de Estado e de Governo pediram a São João Paulo II que o declarasse como tal, tamanha a influência que More possui no meio político por conta de seu caráter.

Mesmo com uma carreira política invejável por muitos, tendo assumido por conta de suas capacidades altos cargos na Coroa inglesa, ao ver a incoerência de Henrique VIII, São Thomas More abdica de seus cargos e vive na pobreza, até ser exigido, por torturas psicológicas, que aprovasse todo plano político e religioso de Henrique VIII. Morreu defendendo a honra política verdadeira, que significa servir ao bem dos homens através das leis de Deus e da Igreja.

Canonização e legado

Com o rompimento da Igreja da Inglaterra com Roma, cresceu, e muito, a perseguição e repressão da Igreja Católica. Somente no ano de 1850 é que a hierarquia católica foi reconstituída na Inglaterra. Com esse acontecimento é que foi possível reiniciar o trabalho eclesial. Conseguiu-se, nesse contexto, abrir as causas de canonização de vários mártires. Foram, ao todo, 53 mártires, dentre eles o bispo João Fisher e Thomas More.

Thomas More foi beatificado pelo papa Leão XIII em 1886, e foi canonizado, juntamente com Dom João Fisher, em 1935, por Pio XI, no quarto centenário de seu martírio. A Igreja comemora esses grandes santos no dia 22 de junho, data do martírio de São João Fisher.

Muitas são as razões para buscarmos a intercessão de tão grande santo, sobretudo em modelos de leigos administradores que mostraram o caminho da verdade e da fé em momentos históricos desafiadores. Enfim, quase no encerramento de sua carta apostólica, São João Paulo II nos diz o legado de tão grande santo a nós, homens e mulheres do século XXI:

“Com efeito, existem, hoje, fenômenos econômicos intensamente inovadores que estão a modificar as estruturas sociais; além disso, as conquistas científicas no âmbito das biotecnologias tornam mais aguda a exigência de defender a vida humana em todas as suas expressões, enquanto as promessas duma nova sociedade, propostas com sucesso a uma opinião pública distraída, requerem com urgência decisões políticas claras a favor da família, dos jovens, dos anciãos e dos marginalizados.” 2

São Thomás More, rogai por nós!

Referências

  1. Carta Apostólica E Sancti Tomae Mori, de São João Paulo II[↩]
  2. Carta Apostólica E Sancti Thomae Mori, São João Paulo II[↩]

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