“O lenho da cruz serviu a Jesus Cristo, não só para operar o nosso resgate; mas também de cátedra para nos ensinar as mais sublimes virtudes.” – Santo Agostinho
À imitação dos santos, procuremos estudar o grande livro do Crucifixo e também aprenderemos como devemos praticar a obediência aos preceitos divinos, o amor ao próximo, a paciência nas adversidades. Aprenderemos sobretudo como devemos odiar o pecado e amar a Deus, aceitando por seu amor, trabalhos, tribulações e a própria morte.
I. Dizia o Apóstolo São Paulo que não queria saber de outra coisa senão Jesus, e Jesus crucificado, isto é, o amor que Ele nos testemunhou sobre a Cruz. E na verdade, em que livros poderemos melhor estudar a ciência dos santos, que é a ciência de amar a Deus, senão em Jesus crucificado?
O grande servo de Deus Frei Bernardo de Corlione, capuchinho, não sabendo ler, queriam os religiosos, seus irmãos, ensiná-lo. Foi primeiro aconselhar-se com o Crucifixo; mas Jesus lhe respondeu da cruz: “Que livros! Que leituras! Eu é que sou o teu livro, no qual podes sempre ler o amor que tenho tido. Oh, que grande assunto para meditação por toda a vida e por toda a eternidade: um Deus morto por nosso amor, um Deus morto por nosso amor! Oh, que grande assunto!”
Um dia, São Tomás de Aquino, visitando a São Boaventura perguntou-lhe de que livro tinha feito mais uso para consignar em suas obras tão belos conceitos. São Boaventura mostrou-lhe a imagem de Jesus crucificado, toda enegrecida pelos beijos que lhe dera, dizendo: “Eis aqui o livro que me fornece tudo que escrevo; que me ensinou o pouco que sei.”
Jesus crucificado foi também o livro predileto de São Filipe Benício, que teve a fortuna de exalar a sua alma bendita emquanto beijava as chagas sagradas.
Numa palavra, foi no estudo do crucifixo que os santos aprenderam a arte de amar a Deus e de, por amor dele sofrer as tribulações, os tormentos, os martírios e a morte mais cruel.
Santo Agostinho tinha razão para escrever que o lenho da cruz serviu a Jesus Cristo, não só para nele operar a nossa redenção, mas também de cátedra para nos ensinar as mais sublimes virtudes.
Por isto, o Santo, arrebatado pelo amor ao contemplar Nosso Senhor coberto de chagas sobre a cruz, fazia esta terna oração: “Gravai, ó meu amantíssimo Salvador, gravai as Vossas Chagas em meu coração, a fim de que nelas eu leia sempre a Vossa dor e o Vosso amor. Sim, porque, tendo diante dos olhos a grande dor, que Vós, meu Deus, padecestes por mim, sofrerei em paz todas as penas que me possam acontecer; e a vista do amor que me tendes patenteado na cruz, não amarei nem poderei amar senão a Vós.”
II. Eis aí o nosso grande livro: Jesus crucificado! Se o estudarmos, ficaremos também instruídos na ciência dos santos; no dizer de São Tomás, ao mesmo tempo que nele acharemos auxílio seguro contra todas as tentações, aprenderemos a praticar a obediência a Deus, a caridade ao próximo, e a paciência nas adversidades.
Aprenderemos sobretudo a temer o pecado e a amar a Jesus Cristo com todas as nossas forças; pois nessas chagas leremos a malícia do pecado que leva um Deus a sofrer tão amargosa morte para satisfazer à Divina Justiça; e também o amor que o Salvador nos mostrou querendo sofrer tanto, a fim de nos fazer compreender o quanto nos amava.
Procuremos, portanto, ter uma linda imagem de Jesus crucificado em nosso quarto e, olhando para ela frequentemente, mesmo entre os nossos estudos e trabalhos, façamos com amor alguma oração ou jaculatória, particularmente esta: † Meu Jesus, misericórdia! (Com indulgência de 300 dias, cada vez).
O Senhor revelou a Santa Gertrudes, que todo o que olha com devoção o Crucifixo, será de cada vez recompensado com um olhar amoroso de Jesus.
Ah, meu Jesus! quem não Vos há de amar, reconhecendo-Vos pelo Deus que sois e contemplando-Vos na cruz? Oh! que setas de amor arremessais às almas do alto da cruz! Quantos corações tendes atraído a Vós lá do trono de amor! Ó chagas de meu Jesus, ó belas fornalhas de amor, deixai-me entrar em Vós a fim de ser consumido pelo amor de meu Deus, que quis morrer por mim, consumido pelos tormentos. Minha dolorosa Mãe Maria, ajudai vosso servo que deseja amar a Jesus.
Santo Afonso de Maria Ligório
Tomo III – Décima Oitava Semana Depois de Pentecostes – Sexta-feira
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